Amazônia produz 200 mil toneladas de pescado por ano

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BRASÍLIA — A Amazônia produz hoje cerca de 200 mil toneladas de pescado -perto de 20% do total nacional, a cada ano. A renda anual bruta com a atividade gira em torno de R$ 470 milhões. Esses números, no entanto, podem até quadruplicar se houver investimentos na melhoria da frota, na infra-estrutura de beneficiamento, armazenamento e incentivo ao mercado consumidor. As projeções constam do Plano Amazônia Sustentável (PAS), um marco referencial acerca dos problemas e potencialidades amazônicos.
O plano governamental vê a Bacia Amazônia com vastos recursos pesqueiros e potencial excepcional para a aqüicultura. Mas o governo admite que, apesar desse enorme lastro social que a pesca sustenta, a atividade ainda tem pouca importância econômica e a aqüicultura é relativamente incipiente. A cadeia produtiva regional concentra-se em Belém (PA), Manaus (AM), Santarém (PA) e Tabatinga (AM), mas a tendência é expandir-se com o potencial da “marca” Amazônia, a qual já produz valor agregado e marketing próprio.
Seis são as modalidades de pesca na Amazônia. A predominante é a de subsistência, praticada por grupos familiares e pequenas comunidades. Pratica-se também a pesca comercial multiespecífica. Essa é destinada ao abastecimento dos centros urbanos regionais e praticada, em geral, por pescadores residentes nesses centros. A pesca comercial monoespecíficia, por sua vez, é destinada para a exportação e dirigida principalmente à captura de bagres, entre os quais a piramutaba (Brachyplastystoma vaillantii) e o surubim (Pseudoplatystoma fasciatum).
Os reservatórios das grandes usinas hidrelétricas da Amazônia, entre eles a de Tucuruí e Balbina, abrigam os pescadores chamados ‘barrageiros’. Pratica-se ainda em rios de água preta a pesca esportiva, cujo peixe-alvo é o tucunaré (Cichla monoculus), e a pesca de espécies ornamentais nos rios Negro (AM), no Tapajós (AM) e em seus afluentes. A pesca ornamental tem gerado uma série de conflitos devido à ação de biopiratas que atuam na região. Vez por outra, a Polícia Federal (PF) apreende grandes carregamentos desses peixes quando os biopiratas tentam sair ilegalmente do Brasil.
Emprego e renda
Além de ser uma importante fonte de emprego e renda, o pescado, inclusive o camarão e o caranguejo, constitui elemento essencial na alimentação dos povos da Amazônia. Esse fato é perceptível quando se compara o consumo médio no País. Enquanto a média do consumo brasileiro é de 6,8 quilos per capita/ano, na Amazônia consome-se 50 quilos em média per capita por ano. Mas em algumas regiões da Amazônia o consumo é bem mais elevado: no Baixo Amazonas, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 134,7 quilos por ano. A quantidade é grande também no Baixo Solimões, 178,9 a 219 quilos, e no Alto Solimões, de 182,5 a 292 quilos. Esse é o maior consumo do mundo, ultrapassando o Japão que é de 90 quilos por pessoa ao ano.
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Além de ser uma importante fonte de emprego e renda, o pescado é essencial na alimentação dos povos da Amazônia
Atualmente, a pesca extrativa de águas continentais produz apenas 1/8 da demanda. Significa dizer que isso representa um vasto potencial para a atividade da aqüicultura tanto para o mercado da Amazônia e nacional como para o internacional. As estimativas indicam que o potencial pesqueiro da região gira entre 270 e 920 mil toneladas/ano. Os negócios no setor podem gerar 600 mil empregos diretos e indiretamente (72% dos quais no âmbito da pesca de subsistência), além de uma renda de US$ 200 milhões anuais.
Segurança alimentar
Para o governo, a aqüicultura na Amazônia pode servir como uma atividade com potencial de mitigar os efeitos da sobreexploração de algumas espécies de valor comercial e ser, também, alternativa de segurança alimentar e geração de muitos postos de trabalho em muitas comunidades. Dessa forma, a atividade poderá ainda contribuir na diminuição das frentes de desmatamentos e promover a qualidade de vida de diversas áreas da região.
Para isso se tornar realidade, alguns obstáculos precisam ser superados. Entre eles se destacam a ausência de tecnologia de cultivo adequadas, falta de insumos, mão-de-obra especializada, deficiência de infra-estrutura e falta de assistência técnica aos criadores. Atualmente, existem algumas experiências bem-sucedidas de cultivo de espécies nativas, principalmente no Amazonas e no Pará. Ali se cultiva o tambaqui (Colossoma macropomum), a terceira espécie mais cultiva no Brasil; o matrinxã (Brycon amazonicus) e o pirarucu (Arapaima gigas). O pirarucu é considerado o bacalhau brasileiro.

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