GUARAPARI. Quem avista o arquipélago das Três Ilhas pela primeira vez, dificilmente poderia supor que ali existe a maior diversidade de fauna marinha do litoral capixaba e um dos melhores pontos de mergulho em baixa profundidade do Brasil. Pelo menos três espécies foram descobertas e descritas ali. Situadas a quase três quilômetros da orla, suas nove ilhas e rochedos fazem parte do Parque Estadual Paulo César Vinha, que está encravado na Área de Proteção Ambiental (APA) de Setiba, entre os bairros de Santa Mônica e Recanto da Sereia, em Guarapari.
Nem por isso peixes, aves e plantas nativas estão a salvo da ação predatória do homem. Em terra, os indícios estão por toda a parte. São restos de fogueiras, cacos de vidro, garrafas plásticas, artigos de higiene (usados) e sacos plásticos jogados pelo ventos nas árvores e arbustos. No leito marinho, cuja profundidade varia de três a 15 metros, mergulhadores costumam encontrar redes, chumbadas e espinhéis perdidos ou abandonados. Âncoras e até um fogão já foram içados da água.
Faxina.Em meados de setembro, o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) organizou uma faxina com ajuda de voluntários. O órgão é responsável pela área, mas não dispõe de pessoal nem de recursos para apertar a vigilância.
A falta de pontos adequados para desembarque jamais foi uma barreira. Nas ilhas de Guararema e Quitongo existem estreitas faixas de areia recobertas com conchas onde é possível aportar. No dia da limpeza foram encontradas pichações em um rochedo da ilha Cambaião e um grupo de 20 pessoas acampadas em Quitongo. O lixo se amontoava. “Sem ajuda da Polícia Ambiental não dá para tirar esse pessoal daqui” lamenta Mabel Ludka, gerente do parque. Dez sacos de lixo repletos foram recolhidos para terra firme.
Pesca.A pesca é o maior atrativo. De terra é possível avistar barcos de todos os tamanhos, indo e vindo todos os dias. O mesmo fundo rochoso irregular que sustenta uma intensa vida marinha também evita que as redes balão arrasem com tudo. “Além das malhas, quase todas as vezes retiramos chumbadas feitas com velas de ignição usadas, que são poluidoras”, diz Ivan Costa Santos, da agência de mergulho Acquasub.
Ele visita o local com freqüência, pois o mergulho é permitido. O Iema também admite pesca com linha. Por conta da fragilidade do ambiente, o desembarque só é possível mediante autorização, mas ninguém respeita.
Parque marinho pode salvar área
O Iema prepara um plano de manejo para recuperação do Parque Estadual Paulo César Vinha, incluindo as ilhas, que são área de proteção desde 1994. Um estudo anterior sugere a criação do Parque Marinho Ilhas de Guarapari, a exemplo do que já existe em Abrolhos e em Fernando de Noronha. É que a variedade de peixes existente é considerada uma das maiores do Brasil, ainda que as quantidades não sejam tão expressivas.
Espécies marinhas foram encontradas nos recifes
Quem já viu uma moreia-de-peruca ou um peixe-pedra? Pouca gente. Para consegui-lo é preciso mergulhar nas Três Ilhas entre março e abril – quando a visibilidade atinge até 20 metros – e ter paciência.
Esses animais estão entre os mais coloridos do arquipélago, onde pesquisadores já se depararam e catalogaram espécimes desconhecidos pela ciência. Um deles é o peixe arco-íris (Gramma brasiliensis), de 10 centímetros de comprimento, descrito pela primeira vez em 1998. Antes disso, o bichinho já era cobiçado para fins ornamentais, hoje está em risco de extinção.
O biólogo e consultor ambiental João Luís Gasparini prepara um livro com imagens da fauna submarina das ilhas ao largo de Guarapari, incluindo também a Escalvada e as Rasas.
Em conjunto com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), há quatro anos ele apresentou ao mundo o Labrisomus cricota, conhecido popularmente como moreia-emboré ou moreia-de-peruca, que vive em tocas e atinge 15 centímetros.
De acordo com Gasparini, essa pequena criatura colorida está tão em perigo quanto o gigantesco mero, que freqüenta a costa e pode atingir quatro metros e 400 quilos. “É um peixe que tem poucos predadores, por isso nunca aprendeu a temer o homem”, diz.
Espécies.Das 300 espécies de peixes que vivem ao redor das Três Ilhas, pelo menos a metade possui valor comercial. A explicação para tanta variedade – as quantidades já foram afetadas pela pesca – se deve ao fato da área estar em uma região de transição de fauna tropical e subtropical. “A qualquer época teremos barcos ali”, alerta. E nem só para pesca. Alguns catam algas calcárias e corais para vendê-los como objetos decorativos, o que só degrada mais o habitat.
Um dos mais prejudicados é o búzio-de-chapéu. Capturado por sua carne saborosa, o molusco também tem sua concha vendida como suvenir artesanal. “A situação só não é pior por conta do parque”, lembra Gasparini.
Atrativo maior está no fundo do mar
As Três Ilhas na verdade são cinco: Cambaião, Guanchumbas, Leste-oeste, Quitongo e Guararema, além dos rochedos de Francisco Vaz, Toaninha, Alcabira e Pedra dos Patos. Na Cambaião estão as duas únicas fontes de água. Só existem pequenas faixas de areia em Quitongo e Guararema. A vegetação é de restinga e muito densa. Só é possível caminhar nas poucas trilhas abertas pelo homem ou pelas encostas, que podem atingir mais de 15 metros de altura.
Na água a situação muda. Há piscinas naturais ideais para a prática de snorkeling e apnéia. No fundo de areia e rocha vivem corais e peixes como linguados, arraias, cações, frades, polvos, moréias e dezenas de pequenos peixes de recifes.
Ratos destruíram área de reprodução de aves
As aves sobrevoam as ilhas o tempo todo, porém os biólogos dizem que poucas se arriscam a fazer ninhos no chão, como seria de se esperar. Ratos domésticos vindos como passageiros clandestinos nos porões de barcos devastaram as áreas de reprodução, que agora se concentram nos rochedos mais isolados ou nos penhascos mais íngremes. Um dos poucos que ainda nidifica na maioria das ilhas é o maçarico-do-bico-vermelho, também conhecido como biro-biro. O outro é o urubu.
De hábitos noturnos, os ratos se ocultam durante o dia, quando podem ser caçados por gaviões vindos do continente. O Iema estuda possibilidades para deter os animais, que se tornaram uma praga. Até a introdução de jibóias foi estudada, mas corria-se o risco de trocar um problema por outro. A melhor alternativa até o momento seria o uso intensivo de iscas e armadilhas.
Plantas.A presença de plantas exóticas é outra preocupação. Na Quitongo existem coqueiros, goiabeiras, castanheiras e centenas de piteiras agarradas nas encostas. Essas plantas foram trazidas por visitantes tão desinformados quanto bem-intencionados. Nas demais ilhas, a presença da piteira é constante, mesmo na Guararema, a mais distante e preservada. Natural da América Central, é muito usada como planta ornamental e pode ter sido trazida pelas correntes ou nas fezes de aves. A planta absorve a umidade e sufoca a vegetação de restinga. Com um plano de manejo funcional, a gerente do parque Mabel Ludka calcula que seria preciso quatro anos de trabalho para controlar sua presença.
André Vargas
avargas@redegazeta.com.br
Olá pessoal,sou do Rio mas tenho casa e raiz ai em Guaraparí.Fico muito triste em saber que nossa [TRÊS ILHAS]está sendo mal tratada por vandalos que resolvem acampar por lá.Pra cima delles pessoal da guarda costeira,coloquem elles para fora,pois como todos sabem,é área de proteção ambiental.Caso contrário,cadeia nelles e multas que ficarão doidos em pagar o valor.Só assim sairão,e não voltarão mais.Um abração de um mergulhador e conhecedor desse lugar tão lindo que é GUARAPARÍ/TRÊS ILHAS/RAZA/FAROL[ESCALVADA]
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