Pescadores e moradores da orla de Itapoã estão fazendo lobby para modificar o Plano Diretor Municipal (PDM) de Vila Velha, na tentativa de aumentar a altura máxima das construções na área da Colônia de Pescadores, que hoje é de dois andares, para 10 andares.
“Queremos valorizar os nossos terrenos igualmente, pois no entorno já há vários prédios com altura equivalente a 18, 20 andares. Há uma discriminação com quem mora aqui“, defende a presidente da Associação de Moradores da Orla de Itapoã – criada especialmente para garantir as reivindicações do movimento – Sandra Ataíde Rangel, dona de um restaurante na região.
Os moradores do trecho compreendido entre a Rua Jair Andrade e o trevo da Rua São Paulo, considerado a Colônia de Pescadores, querem, com a mudança de pavimentos, aumentar o valor de venda dos seus imóveis.
“Essa região foi esquecida por muito tempo. Tivemos que ceder parte dos nossos terrenos para fazer a calçada e agora queremos a compensação, com a possibilidade de vender os imóveis para construtoras” explica Romildo Silva, morador da orla há mais de 30 anos.
Os poucos pescadores que ainda vivem na região, também estão insatisfeitos com a administração do local. O espaço que deveria ser reservado para a colônia hoje abriga uma escola municipal e as barracas improvisadas na areia da praia foram retiradas sem nenhum aviso, denunciam.
A categoria não se sente assistida pelo novo projeto de reurbanização da orla, cujas obras começam em outubro. “Eles querem colocar dois quiosques na praia para os pescadores e tirar a escola para fazer um mercado de peixe. Mas como vamos saber se isso vai atender a todos que dependem disso aqui para sobreviver?“, indaga a catadora de sururu Marlúcia Alfino Guimarães, 34 anos, 20 de pesca.
Grupo reclama que não tem como sobreviver sem a pesca
Os pescadores não querem – e não podem – esperar pela conclusão das obras de revitalização da orla de Itapoã para voltar a trabalhar.
“Há cerca de duas semanas equipes da prefeitura vieram e arrancaram a barraca onde eu vendia os sururus que catava e os peixes que meu marido pescava. Eles vieram sem avisar nada e agora eu não tenho como sobreviver“, destaca a catadora de sururuMarlúcia Alfino Guimarães, que tem três filhos.
Ao lado do marido, Osíris Rocha Guimarães, ela afirma que basta fiscalização para que as coisas funcionem do jeito certo. “Eles reclamavam da sujeira que ficava no final do dia, mas isso era em casos isolados, porque o lixeiro passava várias vezes para pegar os restos do sururu. Só algumas pessoas acabavam jogando no chão, ou até mesmo no mar, mas se tivesse alguém para cobrar postura poderíamos continuar trabalhando tranqüilamente“.
Além da família de Marlúcia, pelo menos outras 20 dependem da pesca na região.
Quem passa pela região percebe o contraste: em meio a dezenas de prédios altos, a colônia se destaca, não por sua importância turística, mas pela falta de estrutura e pelos casebres mal-arrumados.
Prefeitura é contra mudança no PDM, que será votado na terça
A Prefeitura de Vila Velha é contra a redução do gabarito na Colônia de Pescadores. O PDM, que legisla sobre o assunto, está sendo construído em conjunto com a Câmara e será votado na próxima terça-feira, dia 25.
“Queremos preservar a área da colônia como zona de interesse cultural e ambiental. O PDM esteve em discussão aberta durante mais de um ano e só agora, às vésperas da votação, esse grupo de ditos pescadores apareceu para reivindicar a mudança de uma lei que vigora desde 1990“, atacou o secretário de Desenvolvimento Urbano de Vila Velha, Magno Pires.
Segundo o secretário, o projeto de reurbanização da orla também privilegia os pecadores. “A escola que está na atual sede da colônia será transferida para dar lugar a um mercado de peixes organizado. E dois dos 84 quiosques previstos para a orla serão destinados aos pescadores, com bancadas especiais para que eles exponham seu produto“, cita.
Pires ressalta também que no mesmo projeto há previsão de melhorias habitacionais para restaurar a casa de “quem realmente for pescador e morar na região“. “Os demais vão poder continuar morando em suas casas de dois andares”, frisou.
Elaine Vieira